terça-feira, 17 de abril de 2018

Ética e Qualidade: feitos um para o outro


Hoje, quando estava no caminho para buscar minha filha na escola, ouvi no rádio (isso mesmo que você leu! Eu ouço rádio diariamente) uma reportagem a respeito de uma possível restrição da Comunidade Europeia quanto a carne frango produzida no Brasil e exportada para diversos países.

Tudo se deve ao fato de que, recentemente descobriu-se que em algumas empresas do grupo BRF, relatórios técnicos estavam sendo fraudados para apresentar quantidade da bactéria Salmonella em níveis menores que o real, de modo a garantir a exportação dos lotes para a Europa.

As consequências do consumo de carne de frango com esta bactéria em níveis acima do tolerável (infelizmente existe nível de tolerância) são amplamente conhecidas pela comunidade científica.

Pior: o Brasil estuda a possibilidade de recorrer à OMC alegando que este fato tem, na realidade, a intenção de encobrir uma questão meramente comercial.

Ao invés de buscar desculpas ou outros subterfúgios como de costume neste país, a BRF deveria estar com toda sua atenção voltada para analisar detalhadamente seus processos de produção para identificar as deficiências que levam a uma contaminação de produto que coloca em risco a saúde humana.

Afirmo com tranquilidade que somente empresas, grandes ou pequenas, de manufatura ou prestadoras de serviços que definem e mantem processos que atendem os requisitos estabelecidos em contratos ou desejados pelo consumidor é que podem afirmar que possuem postura empresarial ética.

A definição de Qualidade que aprendi com Joseph Juran, um dos nomes mais respeitados no mundo da qualidade, é: "Qualidade é Adequação ao Uso".

Portanto , fabricar produtos e serviços adequados sob o ponto de vista do consumidor é produzir com qualidade e respeitar suas necessidades e expectativas.

Assim, qualquer relação comercial para ser saudável e duradoura necessita, obrigatoriamente, ser ética e de qualidade.

Pelo que vemos, o Brasil ainda tem um longo caminho a trilhar se quiser ser levado a sério e respeitado internacionalmente.

E você, caro leitor, o que pensa a respeito?


segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

O Alfaiate e o Consultor

Recentemente, andando pelas ruas do centro velho da minha São Paulo para tratar de assuntos particulares e para ver como estavam hoje os lugares que conheci quando criança, me deparei com uma placa que não imaginava ver nunca mais. Lá estava ela "Alfaiataria Gomes". Foi ali que, aos dezesseis anos, fiz o terno para o casamento da minha irmã.
Não pensei duas vezes para subir aquelas escadas bem gastas pelos anos e voltar no túnel do tempo.
Qual não foi minha surpresa ao entrar no ateliê e ver o sr. Gomes em plena atividade apesar de já estar com quase 90 anos.
Ao perceber minha presença, levantou os olhos e calmamente perguntou se ele poderia me ajudar em algo. Respondi que estava passando quando vi a placa e que resolvi matar a saudade de um tempo que não volta mais.

Vi um leve sorriso em seu rosto como que concordando comigo enquanto me dizia para sentar e ficar à vontade. Saiu para buscar café.

Enquanto  não voltava, olhei por todo amplo ateliê e vi que continuava praticamente o mesmo de quarenta anos atrás. Rolos de tecido importado, mesa de corte, tesouras afiadas, fita métrica, alfinetes espalhados, manequins, tudo igual.....

Quando voltou, sentou-se e começamos a conversar. Ele me falou das mudanças que viu ao longo dos anos e de como o ofício de alfaiate estava, a seu ver, com os dias contados.

Pedi a ele que explicasse sua opinião. Muito fácil, disse ele! As pessoas ficaram mais apressadas e querem soluções para ontem. Hoje o sujeito entra  numa loja e compra um terno pronto que não foi feito para ele. Um alfaiate tradicional não quer e não pode trabalhar assim. Tem que fazer tudo direitinho: tirar as medidas, escolher o tecido, fazer as provas, ajustar o que for necessário e só então, Voilá! Terno pronto e exclusivo! Ninguém mais neste mundo terá um terno como o seu!

Fiquei fascinado com a lucidez e resistência deste artesão em permanecer na luta ainda que muitos outros tenham desistido ao longo do caminho.

Ofereceu mais uma xícara de café e me perguntou o que eu fazia. Respondi que, respeitadas as diferenças de profissão e experiência de vida, eu era de certa forma um alfaiate da qualidade.

Contei um pouco da minha história profissional como consultor e palestrante da qualidadee e o quanto estava preocupado em ver nestes grupos de Linkedin e redes sociais pessoas atrás de soluções fáceis e imediatas, pedindo por cópias de planilhas de avaliação de fornecedores, exemplos de procedimentos, formulários para as mais diversas situações e até atas de análise crítica. Resumindo, Lei do Mínimo Esforço!

Disse a ele que eu não trabalhava assim, que fazia diagnóstico, entendia  a cultura da empresa, seu mercado de atuação, seus clientes e requisitos e que então montava um projeto para aquela empresa. Nada de soluções de prateleira.

Ele ouviu atentamente todos os meus lamentos sem apartes. Ao final, sua sabedoria produziu o seguinte pensamento: "Não se desespere meu filho! Quem realmente quer um terno elegante, bem cortado e exclusivo acaba por procurar um bom alfaiate!"