domingo, 19 de janeiro de 2014

Descrição de Cargos x Capacitação

Recentemente li num grupo de discussões do qual participo eventualmente, um debate sobre Gestão de Pessoas na ISO 9001. O artigo é bom e bem escrito. Lendo os diversos comentários feitos por outros participantes, vejo que ainda existem muitas dúvidas a respeito de como tratar os recursos humanos dentro de um SGQ e o receio que ainda impera sobre a possível opinião dos auditores e suas conclusões.
Vamos voltar um pouco no tempo e relembrar como se pensava sobre RH nos tempos da ISO 9001 versão 1994.
Naquela época, a norma tinha foco nos requisitos e o que tratava de RH era o 4.18 Treinamento. Daí, se podem tirar duas conclusões: não se falava em processo e o negócio da empresa (ao menos na época da auditoria) era "inventar" treinamentos diversos para demonstrar que o requisito estava sendo cumprido. Passada a auditoria, a empresa voltava para sua rotina normal  e deixava o SGQ meio de lado....
Com a chegada da ISO 9001 versão 2000 veio o conceito de abordagem por processo, que ao que parece não é totalmente compreendido pelas empresas e nem por diversos auditores, que ainda teimam em auditar com base nos requisitos.
O conceito de processo está mais próximo da realidade das organizações (ainda que não percebam), pois o requisito normativo no item 4.1 determina que a empresa identifique seus processos e determine a sequência e interação entre eles.
Isto significa uma mudança radical de enfoque, ou seja, a empresa deve estabelecer seus processos e como os requisitos normativos estão presentes em cada um deles.
O conceito de processo é: 

"Conjunto de atividades interrelacionadas ou interativas que transformam entradas (insumos) em saídas (produtos)".

Qualquer empresa, em qualquer lugar do mundo, depende do bom funcionamento de seus processos para poder gerar os resultados desejados. Acho que ninguém discorda disso.
Portanto, todo processo para ser realizado corretamente, vai precisar de recursos adequados e dentre estes recursos existem os recursos humanos, dos quais vamos falar um pouco.
A ISO 9001 diz que o pessoal que executa trabalhos que afetem a qualidade do produto deve ser competente com base em educação, treinamento, habilidade e experiência.
Vamos imaginar que uma empresa decida fabricar e vender redes de pesca no litoral maravilhoso do Ceará e, para conduzir seus negócios, vai implantar seu SGQ. 
No processo de fabricação das redes de pesca, o que é mais importante em termos de recursos humanos? A pergunta a ser feita é: que tipo de profissional eu preciso para fazer redes de pesca duráveis e fáceis de manejar? Não é esse o produto que eu quero deste processo? Não é disso que vou viver?
Para mim, o profissional ideal seria um daqueles sábios e simpáticos pescadores do litoral nordestino, que dominam a arte de fazer redes e pescar como ninguém! Alguém duvida que eles sejam competentes? 
Assim, para fazer as redes não preciso de ninguém com MBA ou que fale inglês. Eu preciso é de experiência e habilidade! Portanto, se eu escrever na descrição da função "Construtor de Redes" que conhecimentos de informática, inglês, ensino médio mínimo, etc, etc são necessários para o exercício da função, é claro que vou ter problemas na auditoria. E mereço ter!

Quer mais? Já fui a restaurantes internacionais em que o maitre não fala uma palavra de inglês e o cardápio está escrito apenas em português. Como que se espera que dê certo? Acaba-se perdendo cliente para uma rede de fast food qualquer.....
E depois a culpa é dessa tal de ISO 9001! Antes dela eu não tinha problemas....

Pessoal, a ISO 9001 nunca pretendeu acabar com o negócio de ninguém! Ela sabe que as empresas só vão continuar se derem resultados positivos...e ela diz como fazer! É só ler direitinho, com calma e atenção!

Boa sorte sempre!


sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Rastreabilidade - Quando e como implantar

Tenho observado em diversos grupos de discussão que o tema "Rastreabilidade" ainda representa um tabu e gera inúmeros debates quanto à sua necessidade e forma de aplicação.
Inúmeros consultores e, pasmem, muitos auditores tratam a rastreabilidade como requisito obrigatório e de plena aplicação.
Neste momento, é conveniente relembrar o conceito de rastreabilidade de acordo com a NBR ISO 9000:05, que apresenta a seguinte definição no item 3.5.4: 


"capacidade de recuperar o histórico, a aplicação ou a localização daquilo que está sendo considerado."

Neste mesmo item existe uma nota esclarecendo que a rastreabilidade pode estar relacionada com: 

  • origem de materiais e peças;
  • histórico de processamento;
  • distribuição e localização do produto após sua entrega.

Da própria definição, pode-se inferir que a rastreabilidade não é um tema de baixa complexidade e sua aplicação deve ser cuidadosa e representar benefícios para a organização.
A norma NBR ISO 9001:08 no item 7.5.3 indica o seguinte:


"Quando a rastreabilidade for um requisito, a organização deve controlar a identificação unívoca do produto e manter registros (ver 4.2.4)."

Portanto, a empresa deve, primeiramente, identificar se existe requisito do cliente, legal ou estatutário que determine a aplicação da rastreabilidade. Isto é tarefa prevista nos itens 7.2.1 e 7.2.2 da NBR ISO 9001:08.
Caso afirmativo, vem a segunda tarefa que é decidir o quê deve ser rastreado e como. Uma dica é analisar a estrutura do produto e seu processo produtivo. Os itens e operações que mais afetam a qualidade final e função do produto é que devem ser rastreados e esta tarefa se dá por meio de identificação e registros da qualidade.
A identificação, seja ela qual for, deve ser clara, legível e não pode dar margem a dúvidas.
Os registros que evidenciarão a rastreabilidade devem estar interligados de tal maneira que o histórico possa ser recuperado de forma simples e confiável.
Assim, nº de lote, ordem de fabricação, registro de operadores são dados importantes e facilitam o trabalho.

Para finalizar, recomendo que não se tome a decisão de rastrear todos os produtos e seus componentes. Faça uma análise prévia pois, implantar a rastreabilidade representar envidar esforços e recursos que devem gerar, ao menos, um mecanismo de defesa para a organização.

Boa sorte!